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VII Encontro Inter-Religioso




UM ENCONTRO DE PAZ, UM ENCONTRO COM DEUS

          O que fazer em um momento da história em que as posturas violentas se multiplicam? Que atitude tomar quando o ataque pessoal substitui o debate de ideias, quando a agressão física se torna a norma do dia e o discurso que incita à agressão é legitimado por várias esferas de poder, inclusive dentro de certas narrativas “religiosas”?

          Tais questionamentos e sonhos de um mundo melhor para todo ser humano, estiveram presentes no VII Encontro Inter-religioso, que aconteceu do dia 12 de novembro de 2019 às 19h30 no Templo Ecumênico da Universidade Federal de Santa Catarina. O encontro é uma atividade organizada pelo Núcleo para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso (NEDIR) ligado à Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), pela Comissão Arquidiocesana para o Diálogo Ecumênico e Inter-religioso (CADEIR) e pela Paróquia da Santíssima Trindade. O tema deste ano foi “Bem viver e bem conviver em tempos de radicalismos”. Esta escolha busca ser uma resposta, dialogal e orante, para uma situação histórica em que os fundamentalismos de todo tipo retornam com força, colocando em risco o equilíbrio democrático, a boa convivência com o diferente, assim como a sobrevivência de vários grupos que são expostos à violência com mais intensidade, como os presentes fizeram questão de lembrar se referindo às religiões afro-brasileiras, vítimas preferenciais de ataques dos intolerantes. Ninguém pode se eximir frente a questões que demandam a nossa responsabilidade moral, sobretudo se falamos lideranças religiosas. A religião é um esforço de ligação com Deus, conosco mesmos e com o outro, com aquele com quem devo conviver. A pluralidade do mundo, a necessidade da coexistência é um fato. Somos bilhões de pessoas em um mesmo planeta, todos buscando a melhor vida possível. A religião pode e deve oferecer um caminho, uma orientação, que colabore na construção de um mundo melhor. A tolerância é o primeiro passo, sem dúvida. Mas, além dela, podemos sonhar juntos com o diálogo, a mútua compreensão, a partilha de vida.

            O Encontro teve a presença de cinquenta e três pessoas, de diversas tradições religiosas, que vieram partilhar sua vida, sua fé, suas esperanças e preocupações. Houve uma mesa-redonda composta por representantes de cinco tradições religiosas: Sra. Ethel Scliar-Cabral, vice-presidente da Associação Israelita Catarinense; Dom Wilson Tadeu Jönck, Arcebispo Metropolitano de Florianópolis; Pastor Wilhelm Sell, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Sr. Adélcio Machado, assessor teológico da Comunidade Muçulmana de Florianópolis; e Mãe Kátia Regina Luz D’Omulu, sacerdotisa de Umbanda.

            Os membros da mesa enfocaram temas importantes como o respeito, a necessidade de avançar no diálogo construtivo, a colaboração nas lutas pela justiça social, a promoção do respeito aos direitos das tradições e grupos religiosos, a urgência da construção de uma cultura de paz e de valorização da pessoa humana. O diferencial deste ano é que o Encontro foi muito mais que uma mesa-redonda ou debate público. Os presentes participaram de uma verdadeira celebração, um belo momento orante em que as vozes de todos ecoavam juntas com cânticos das diversas tradições e também da música popular brasileira, reafirmando o compromisso de todos na construção de um Brasil mais solidário.

            Ao final do Encontro a bênção foi conduzida pelas duas mulheres líderes que participaram do debate, recordando-nos também a necessidade de que nossas tradições se empenhem na defesa da vida das mulheres, tão ameaçadas em uma sociedade que quanto mais fundamentalista se faz, mais se torna machista e misógina. Mãe Kátia D’Omulu, junto com os membros de seu Templo entoaram a “Saudação ao Anjo da Guarda”. Por fim, senhora Ethel Scliar-Cabral   com membros da comunidade judia entoaram a oração “Shalom Aleichem” (a paz esteja contigo!).

            Uma celebração como essa nos indica que o diálogo, a boa convivência, o respeito, não são apenas possíveis mas são reais. Ainda que nos pareçam iniciativas tão pequenas, têm o poder de irradiar confiança: em Deus e na possibilidade de um projeto comum baseado na acolhida e no amor. É como a semente de mostarda do Evangelho que cresce não só para este mundo, mas para outro mundo melhor e possível que construímos juntos, que cresce para a eternidade. Paz e bem!

Frei Marcus Vinicius de Souza Nunes, OFMCap